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sábado, 26 de abril de 2014

BIOGRAFIA: MORRIS, William (1834-1896).

 
BIOGRAFIA: MORRIS, William (1834-1896).
 
 
O artista multimedia, poeta, conferencista, revolucionário, desenhista, pintor, escritor e tradutor do grego clássico William Morris, foi uma das mais influentes personalidades inglesas do século XIX. O artista nasceu em Walthamstow (Essex), e faleceu em Londres. Morris estudou História Religiosa e Poesia Medieval na Universidade de Oxford, onde foi colega de Edward Burne-Jones (1833-1898), com quem estabeleceu a fraterna amizade que durou o longo período de toda sua vida. Morris começou a escrever como colaborador do Magazine Oxford e Cambridge (1856). Morris trabalhou no escritório de arquitetura Stret; e, sob a influência de seu colega de faculdade Dante-Gabriel Rossetti (1828-1882) e do escritor e crítico de arte John Ruskin (1819-1900), ele começou a desenhar, pintar e a escrever poesias.

No início da Era Industrial (1850-) Morris pregou a volta ao produto personalizado e lutou para a evolução do desenho dos produtos da nascente indústria. O objetivo era a obtenção de níveis superiores de qualidade dos objetos, que a massificação industrial inicialmente nivelou por baixo. Morris advogou importantes reformas na arquitetura, bem como a união de todas as artes, a unificação das artes aplicadas à arquitetura e à decoração de interiores, em nível de otimização de qualidade. O artista trabalhou a favor da real melhoria das moradias e do desenho de interiores, que pudessem realmente favorecer a vida melhor, mais confortável e bela para o ser humano. A reforma que pregou, Morris utilizou na própria vida, pois o artista passou a produzir e a viver em residências que projetou, em conjunto com notáveis arquitetos da época. Nessas moradias, Morris e equipe integraram o desenho dos objetos utilitários ao mobiliário, tecidos, papéis de parede e a decoração dos ambientes, que ele e sua família usufruíram no dia a dia.
 
Morris desenhou estamparia de tecidos para decoração, tapeçarias e papéis de parede, vitrais, e culminou desenhando os interiores para a sua Casa Vermelha (Red House), a casa de tijolos vermelhos que construiu no campo inglês, ao norte de Kent. Na residência, cada detalhe foi pensado a favor da criação do ambiente mais acolhedor e confortável, com aposentos muito luminosos. Morris utilizou cores claras, com toques decorativos das louças tradicionais inglesas, em azul e branco. A construção durou um ano (1859-1860) e o projeto foi conjunto com Burne-Jones.

Morris, recém-casado com Jane Burden (1839-1914), ocupou pouco depois a nova residência, simples e muito confortável. O projeto da dupla Morris e Jones privilegiou os princípios que hoje norteiam a moderna arquitetura, nos quais menos significa sempre mais: a forma serviu sempre à função, a integridade ao ornamento e a verdade ao material. Para a época, a arquitetura de linhas extremamente simples mostrou-se revolucionária, pois eliminou todo o supérfluo do exagerado pendor da época para o decorativismo, que enfeitava em excesso os interiores escuros das casas inglesas. O projeto racional foi pensado em termos inéditos, estudando , em função de dimensões apropriadas a proporção, a iluminação e a circulação dos ambientes; e, como ainda não existia luz elétrica, à noite a casa era iluminada com velas, candeeiros e candelabros. Burne-Jones, Morris e Rossetti se associaram para produzirem os interiores da residência.

Morris fundou a empresa que ficou conhecida como A Firma (The Firm, 1861). Os artistas passaram a desenhar murais para outras residências; o grupo de artistas trabalhava em conjunto e divertia-se intensamente, alternando o trabalho com períodos de jogos e refeições conjuntas. A Sra. Morris pesquisou técnicas medievais para a confecção de tapeçarias e bordados, para a colcha e cortinas do seu quarto. Rossetti pintou o mobiliário, com cenas nas quais Jane Morris foi seu modelo. Todos moravam e trabalhavam juntos: Burne-Jones com Georgiana, Rossetti com Lizzie (Elizabeth Siddall, modelo dos pintores do Grupo dos Pré-Rafaelitas, poeta, desenhista e pintora, 1829-1862) e Morris com Jane. Os casais usavam nas refeições do dia a dia a popular louça inglesa azul e branca (Stafforshire); não usavam toalha de mesa, mas o que hoje convencionamos chamar de Jogos Americanos. Morris decorou com o seu belo padrão Salgueiro [Willow] a louça do aparelho de jantar mais formal; ele pintou os azulejos do revestimento cerâmico da casa, tudo em meio à grande confraternização. Nasceu em janeiro a primeira filha Jane Alice, do casal Jane e Morris; e nasceu em outubro do mesmo ano o filho Phillip, do casal Burne-Jones (1860). Entretanto Lizzie Rossetti, que tinha a saúde debilitada e usava pílulas para dormir, deu à luz à criança natimorta (maio, 1861). A Sra. Rossetti jamais recobrou-se desta tragédia pessoal e, um ano depois sucidou-se, ingerindo overdose de láudano (fev., 1862). Nasceu a segunda filha do casal Morris, Mary Morris, dita May (1862-1938). A vida conjunta do grupo terminou na tragédia.

A empresa Morris, Marshall, Faulkner e Co., a sociedade de Morris, Burne-Jones, Rossetti, Ford Maddox Brown (1821-1893), Philip Webb (1831-1915), Peter Paul Marshall (1830-1900) e Charles Faulkner prosperou, manufaturando vitrais, mobiliário, tecelagem e bordados, estampando tecidos e produzindo papel de parede com belos padrões desenhados por Morris. Vários arquitetos e decoradores da época reconheceram imediatamente a qualidade superior dos produtos da empresa, quando estes foram apresentados na Exposição Universal (1862).

Morris desenhou seus primeiros padrões de papel de parede como Treliça (Trelis, c. 1864), usando flores e pássaros no que foi um dos desenhos mais marcantes que a empresa produziu. Outros desenhos de Morris para papel de parede foram Laskspur (1872), Salgueiro (Willow, 1874), Maçã (Apple, 1877) e Tulipa Selvagem (Wild Tulip, 1884). Morris desenhou mais de 30 padrões de papel de parede que sua empresa comercializou com sucesso; o artista passou a desenhar padrões exclusivos para tecidos de Chintz (algodão mercerizado encerado), quando se destacaram os desenhos Tulipa (Tulip, 1875), Pássaro e Anêmona (Bird and Anemone, 1881-1882), entre outros. Morris também desenhou tapetes de chão como o Lily Wilton (1875), que foram inicialmente tecidos com produção terceirizada à máquina. No entanto, o dito, Hammersmith Carpet (1890), foi tecido no tear manual nas novas instalações da empresa, em Merton Abbey, sendo a produção controlada diretamente por Morris, obtendo qualidade superior. Morris desenhou a Tapeçaria do Pica-pau (The Woodpecker Tapestry, 1885), tecida no tear manual na técnica dita, de Gobelin, desenhada com folhas de acanto que se enroscavam na árvore que Morris colocou no centro da composição, com pássaros, flores e frutas reproduzidos na barra e, em cima e em baixo, algumas palavras de poema de sua autoria. O artista desenhou painel de azulejos pintados (1887), produzidos por William de Morgan. Todos os desenhos citados das obras de arte aplicada de W. Morris se encontram reproduzidos (GILLOW, 1985).

A empresa de Morris levou cinco anos para firmar sua reputação no mercado londrino, o que ocorreu graças ao sucesso da linha de papéis de parede desenhados por Morris e da linha de vitrais, executados especialmente para várias igrejas. A firma contratou novo administrador e passou a fabricar a linha mais simples e vendável de cadeiras e mobiliário doméstico. A demanda por estes produtos muito bem aceitos cresceu, à medida em que diminuíram as encomendas eclesiásticas. Surgiram outras encomendas para obras importantes como a decoração do Aposento da Tapeçaria, no Palácio Saint James (Londres); e a sala de jantar do Museu de South Kensington, que se encontra atualmente no acervo do Museu Victoria and Albert (Londres). A reputação de grande designer de W. Morris estava estabelecida. A Firma, agora bem maior, tinha novos sócios, o que assegurava sua continuidade e renda para Morris, que então pôde dedicar-se a escrever.

A Sra. Morris queria sair do campo e voltar a viver a vida da metrópole, que Morris detestava; o artista cedeu e a família voltou a viver em Londres (1865-). A alta roda inglesa, e até mesmo a francesa, sempre ridicularizaram a Sra. Morris, a belíssima, mas pouco cultivada filha de um cocheiro, que Morris e Rossetti descobriram quando eram estudantes. Jane Burden foi convidada para tornar-se o principal modelo das pinturas dos artistas. Depois do casamento com Morris, Jane foi menosprezada na elitista sociedade a qual seu marido pertencia, não só por sua modestíssima origem, mas principalmente pela falta de berço, cultura e traquejo social. No seio da vida de sucesso de Morris, instalava-se a nova tragédia; o viúvo Rossetti passou a acompanhar diariamente e pintar sua modelo preferida, Jane Morris, que conhecia desde os 18 anos de idade, data do desenho de estilo clássico italiano que Rossetti fez da bela jovem, que se encontra reproduzido (RODGERS, 1996).

Quando Jane estava com problemas de saúde que se manifestaram intensamente, ela precisou passar temporada de cura em Bads Ems (1869). Na ocasião, quando foi acompanhada por Morris, a Sra. Morris recebeu cartas abertamente apaixonadas de Rossetti, pois o pintor passava temporada no Castelo de Penkill (Ayrshire, Escócia). Rossetti enviou para Jane desenhos caricatos e mesmo cruéis de Morris, que o considerava seu melhor amigo. Na ocasião desta crise pessoal, Morris não dissolveu a firma, mas resolveu comprar a parte de seus sócios e permaneceu sozinho à frente do empreendimento. Esta manobra fez Morris perder vários colaboradores e antigos sócios: um desses foi Madox Brown, que havia desenhado mais de 130 vitrais para a firma, um dos artistas que saiu amargurado, sentindo-se injustiçado. Burne-Jones e Webb continuaram desenhando para a empresa de Morris, permanecendo afastados da sociedade. Morris passou a escrever e publicou o livro em homenagem a Edward Burne-Jones, O Paraíso Terrestre (The Earthly Paradise, 1868). Morris publicou, em texto manuscrito, ricamente ilustrado, O Livro do Verso (The Book of Verse, 1870).

William Morris tornou-se membro da Federação Social Democrática [Social Democratic Federation], organização socialista de extrema esquerda, fundada por Henry Mayers Hyndman (1842-1921). Este partido político tinha por objetivo principal mudar gradualmente a sociedade, através da eleição de membros socialistas para a House of Commons. Morris logo deixou o partido, levando consigo grande grupo de seguidores; um ano depois, ele fundou a Liga Socialista (1884). Morris foi preso (1885), sendo a prisão logo relaxada. Morris continuou sua ativa vida intelectual e publicou a tradução dos versos da Odisséia, de Homero; publicou Notícias de Lugar Nenhum (News from Nowhere, 1890) e editou o jornal Commonweal: para a associação que fundou ele proferiu inúmeras palestras e discursos políticos.

Morris liderou o movimento para O Vestido Racional (The Rational Dress), que buscava eliminar do vestuário da época a estrutura vitoriana, que aprisionava o corpo da mulher com espartilhos. Por este motivo, Jane continuou sendo ainda mais ridicularizada na sociedade inglesa, por seus vestidos desestruturados, na corrente contrária à da moda da época. Morris também utilizava para a confecção de seus trajes a estética do novo estilo do vestir racional, usado no dia a dia. Naquele tempo, era dada especial importância ao vestir, especialmente na alta sociedade inglesa, a que Morris sempre pertenceu. O movimento liderado por Morris finalmente triunfou na sociedade européia, com a nova moda de vestidos mais fluidos e soltos, desenhados pelos figurinistas franceses, que se tornaram líderes da alta moda européia.
 
Morris escreveu Casa dos Wolfings (House of the Wolfings, 1889) e As Raízes das Montanhas (The Roots of the Mountains, 1890), ambos publicados pela editora Chiswick Press. Morris agora autor, escreveu a Saga Gunnlaug (Gunnlaug's Saga), que queria editar com tipos medievais, como muitos dos livros raros que adquiriu do seu amigo e futuro editor, Bernard Quaritch. A biblioteca de Morris possuia mais de 100 livros medievais, a maioria alemães, entre outros de origem francesa, italiana, holandesa e espanhola. Morris fundou sua casa editora, a Kelmscott Press (1891), contratou tipógrafo e desenhou seu primeiro tipo de letra, a Golden. Morris editou neste tipo que criou seu livro História da Planície Cintilante (Story of the Glittering Plain): ele desenhou depois vários outros tipos de letras, como o tipo gótico Troy e a versão reduzida do Chaucer, com o qual editou seu livro de maior sucesso, The Kelmscott Chaucer (1894-1896). Morris obteve a colaboração de E. Burne-Jones, que produziu as 87 matrizes para as ilustrações dele para o livro, com todas as páginas adornadas com borda floreada. Morris patrocinou esta bem cuidada edição com a venda antecipada dos 425 exemplares impressos manualmente.

No final da vida Morris esteve doente (1891), com ataques de gota e problemas renais. O artista continuava doente (1895), mas mesmo assim continuou a escrever e conseguiu completar com dificuldades, no ano seguinte, seu último livro (The Sundering Flood, 8 set.); pouco depois, o artista faleceu na sua residência, a Kelmscott House (3 out., 1896). A obra A Bela Iseult (La Belle Iseult, 1858-1859), a primeira pintura em que Morris retratou Jane Burden, iniciada em Oxford e terminada em Londres, encontra-se reproduzida (RODGERS, 1996). O retrato de William Morris por G. F. Watts, encontra-se reproduzido (CASSOU, 1988). Os quatro painéis em madeira com fundo laqueado negro, nos quais foram pintadas decorações florais desenhadas por Morris em folha de ouro, produzido por Morris & Co., pertencem ao acervo do Museu d'Orsay (Paris) se encontram reproduzidos (BONFANTE-WARREN, 2000). A Galeria William Morris encontra-se localizada em Lloyd Park (Forest Road, Londres, Inglaterra), onde grande parte da extensa obra de Morris pode ser apreciada. (V. imagens de William Morris abaixo, depois dos textos). 

 

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color., pp. 306-307. 25,5 x 36,5 cm.


 
CHAMPIGNEULLE, B. A Arte Nova. Tradução de Maria Jorge Couto Viana. Cacém (Portugal): Verbo, 1973. 309p., p. 41.

ENCICLOPÉDIA. CASSOU, J.; BRUNEL, P.; CLAUDON, F; PILLEMONT, G.; RICHARD, L. (Col.). Petite Encyclopedie du Symbolisme: Peinture, Gravure et Sculpture, Littérature, Musique. Paris: Somogy, 1988, pp. 110-111.
 
FAXN, A. C. Dante Gabriel Rossetti. New York: Abeville, 1989.

 
FAHR-BECKER, G. El Modernismo. Colonia: Konemann, 1996. 427p : il., color.,p. 407.

 
GILLOW, N. William Morris Designs and Patterns. New York: Crescent Books,1988.
 
RODGERS, D. William Morris at Home.London: Ebury Press and The William Morris Society, 1996, pp.20-38, 39 (il.), 40-129.

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